terça-feira, 26 de setembro de 2006

Cine-Debate em destaque no Pioneiro



Em oportuna e precisa matéria do jornalista Marcelo Mugnol, o Cine-Debate realizado em Galópolis no último domingo (24.09.06) foi destaque na edição do Jornal Pioneiro de 26.09.06.



Polêmica real População estaria reagindo quando não vê atendido o desejo por justiça



Caxias do Sul - Madrugada de domingo. Dois rapazes são detidos pela morte do metalúrgico Leonardo Panzenhagen, 18 anos, em uma tentativa de assalto em Vale Real. Logo cedo, pela manhã, moradores indignados invadem a delegacia da cidade e tentam linchar os dois. Final de tarde de domingo. No bairro caxiense de Galópolis, o grupo Matéria Prima e a Faculdade da Serra Gaúcha promovem debate sobre o tema pena de morte, a partir do filme A Vida de David Gale, do diretor inglês Alan Parker. Mesmo sem saber do caso, os debatedores se mostravam preocupados com casos de violência desencadeados pela população (em Caxias, um ladrão foi linchado em 10 de setembro). Os dois extremos do debate, pena de morte ou justiça com as próprias mãos, apontam para a mesma raiz do problema. - Isso ocorreu (em Caxias) porque há um sentimento geral de que não está saciado o desejo de justiça da população. Mas é perigoso o precedente do linchamento - diz Adrio Gelatti, promotor de Justiça. O filósofo e professor Vilmar Alves Pereira navega na mesma corrente. - Me preocupo quando, em pleno século 21, alguém diz que a única saída para o crime é a pena de morte. Mas não seria mesmo essa a saída para coagir os bandidos? Segundo pesquisa realizada no Brasil, realizada em 2001, aponta que 57% dos entrevistados aprovariam a pena de morte no país. No Estado, o índice aumentaria para 67%. - O sistema criminal é quem deve dar uma resposta enfática e satisfazer o desejo de segurança. E mais, deve assegurar que a punição desestimule a ocorrência de um novo delito - afirma Gelatti.
'Essa não é a saída' Tanto o filósofo Vilmar Alves Pereira quanto o promotor de Justiça Adrio Gelatti são contrários à pena de morte. Não acreditam ser essa a saída porque, segundo eles, não há dados de diminuição da criminalidade depois da implementação da pena de morte. Pereira se ampara no preceito fundamental da ética: - Não faça aos outros o que você não gostaria que fizessem com você. Além disso, Gelatti prefere acreditar na punição da Justiça como meio eficaz para inibir a criminalidade. E já que é período eleitoral, aponta a necessidade de os governos, em todas as esferas, fazerem sua parte. - Certeza da punição é investimento público e isso não vem ocorrendo com freqüência. Os políticos em geral só falam em mudar as leis - explica Gelatti. No turbilhão de acontecimentos e reações a cada dia mais violentos, o comum é acreditar que não há como dar ordem a esse caos. No entanto, Pereira aposta num ideal, e não se trata de filosofia barata nem conselho piegas. - O importante é voltar a valorizar a família. Sei que muita gente acha isso banal, mas a família é essencial. É de onde vem os valores. Conversar com os filhos é o ideal, mas não parece ser o mais normal, porque os pais têm inúmeras tarefas no dia-a-dia e acabam afastando-se - acredita Pereira.




Próximo encontro O próximo debate ocorre dia 19 de novembro, às 15h, no antigo cinema de Galópolis. O filme escolhido é Notícias de uma Guerra Particular, de João Moreira Salles e Kátia Lund. Mais informações com o grupo Matéria Prima pelo telefone (54) 9167.2849, com Roberta Basso Canale.

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

Carreteiro com tempero da fronteira



No lado de fora do bolicho a atração era o carreteiro. Aliás, legítimo carreteiro da fronteira. Nascido em Santana do Livramento, o veterinário Carlos Bayard (à esquerda na foto), 38 anos, cozinhava cinco quilos de arroz em duas panelas, que segundo o cálculo, dava para 50 pessoas se deliciarem. - Como eu morava no campo e não tinha o que fazer, aprendi a cozinhar - brinca o mestre-cuca. O carreteiro era servido em pratos individuais, salpicado com salsinha e ovo cozido cortado em pedacinhos. E foi aquele alvoroço, tanto que teve gente repetindo. - Fizemos o carreteiro especialmente para o Sarau Gaudério, mas se o pessoal gostar a gente repete mais vezes - avisa o veterinário e ajudante de mestre-cuca, Ricardo Gazola, 44.

Carlos Bayard (à esquerda) e Ricardo Gazola Foto(s): Roni Rigon/Pioneiro

Batalha pela poesia (Jornal Pioneiro, 18.09.2006)




Sarau Gaudério teve apresentações de música e declamações, sábado, em Galópolis

MARCELO MUGNOL
A voz encorpada de Maria Almeida e o violão de Tarcísio Sirena silenciaram o burburinho do bolicho
Foto(s): Roni Rigon/Pioneiro
E teve poesia de todas as querências no Sarau Gaudério, no Bolicho do Ratão, sábado à noite, em Galópolis. Quem chegou cedo tratou logo de reservar um lugar perto do fogão à lenha. Não demorou muito e apareceu uma cuia de chimarrão. A essa altura o mate amargo era mais disputado que cerveja gelada. No palco, a vez era da poesia cantada, versada em forma de música, de compositores importantes da história do cancioneiro gaúcho.

Em Canto dos Livres, de Cenair Maicá, o poeta se desnuda, apresenta de maneira simples, mas intensa, que cantar é a sua salvaguarda: "No cantar de quem é livre, hay melodia de paz / Horizontes de ternura, nesta poesia de andar / Quem canta refresca a alma, cantar adoça o viver / Assim eu vivo cantando, pra aliviar meu padecer".

O gauchismo veio à tona com Céu, Sol, Sul, de Leonardo. Para muitos, o segundo hino do Rio Grande do Sul. Mas a mão pesou mesmo quando Maria Almeida, 64 anos, foi convidada a subir no palco.

- Vamos lembrar com orgulho as pessoas que lutaram e morreram para fazer do Rio Grande do Sul um lugar melhor para viver - disse Maria, antes de recitar duas poesias.

Acompanhada do violonista Tarcísio Sirena declamou Lenço Colorado, de Glauco Saraiva, e Mãe Velha, de Apparicio da Silva Rillo, seu poeta favorito. A postura forte e a voz encorpada silenciaram o burburinho do bolicho.

Nos versos de Apparicio, a tristeza de uma mãe que assistiu de mãos atadas marido e filho morrerem na guerra: "- Papai foi pra guerra!, dizia o piá. / Mãe Velha era moça no tempo que foi. / Mas veio a notícia: - Teu homem morreu / de lenço encarnado / e de lança na mão". Maria encantou a platéia porque trouxe à luz da poesia a história de quem sofreu com a disputa entre maragatos e chimangos. Encantou porque sentia a dor da mãe velha em cada um dos versos sofridos. Depois da declamação, revelou: - Tenho que declamar sempre. Nem que seja pra mim mesma.

A inspiração para se tornar declamadora veio do programa de rádio Grande Rodeio Coringa, criado em 1954 e apresentado por Darci Fagundes e Luiz Menezes na Rádio Farroupilha. Defensora do tradicionalismo, Maria acha que a poesia gaúcha está relegada. - O pessoal dificilmente valoriza a poesia. A dança sempre é a atração principal. Sábado, a poesia teve um lugar de destaque. Resta saber se ecoará para além das comemorações da Semana Farroupilha. Se depender de Maria, a poesia seguirá como a ponta de lança nessa batalha constante para levar adiante a cultura do gaúcho.

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

A prosa é gaudéria (Jornal Pioneiro, 15.09.2006)

Bolicho do Ratão, em Galópolis, se transforma em palco para sarau amanhã, evocando a cultura gaúcha.

Jair Stragliotto, Tarcísio Sirena, Rafael Calza e Mário Roglio serão alguns dos nomes que exaltarão o gauchismo na tertúlia da noite de sábado
Foto(s): Ricardo Wolffenbüttel/Pioneiro

Setembro, mês de reverenciar a cultura gaúcha. Em Galópolis, está se tornando tempo de realização do Sarau Gaudério, uma iniciativa para envolver a comunidade do bairro no clima das tradições. Amanhã, a partir das 20h30min, o palco do Bolicho do Ratão estará aberto a músicas, causos, declamações e todos tipos de manifestações gauchescas.
Essa será a segunda edição do evento que tem organização do grupo Matéria Prima. A entrada franca. - Criamos o sarau pensando no pessoal de Galópolis, mas está aberto a todo mundo que estiver interessado. O legal é que o evento reúne pessoas que não costumam freqüentar o bar, vem gente com a família inteira - conta uma das integrantes do Matéria Prima, Roberta Basso Canale. Depois de uma certa hora, o microfone fica aberto à manifestação gaudéria de quem tiver interesse, mas, para quebrar o gelo e estabelecer o clima, foram convidados alguns talentos locais e da região.
Já confirmaram presença músicos e declamadores como Mário Roglio, Fábio Basso, Tarcísio Sirena, Rafael Calza, Daniel Azevedo e André Brambatti. As inscrições para quem tiver interesse em ter espaço no palco podem ser feitas na hora, sem custo, só para organizar as apresentações. Também para entrar no clima, o Bolicho do Ratão ganhará ambientação gaudéria para o sarau.