Sarau Gaudério teve apresentações de música e declamações, sábado, em Galópolis
MARCELO MUGNOL
A voz encorpada de Maria Almeida e o violão de Tarcísio Sirena silenciaram o burburinho do bolicho
Foto(s): Roni Rigon/Pioneiro
E teve poesia de todas as querências no Sarau Gaudério, no Bolicho do Ratão, sábado à noite, em Galópolis. Quem chegou cedo tratou logo de reservar um lugar perto do fogão à lenha. Não demorou muito e apareceu uma cuia de chimarrão. A essa altura o mate amargo era mais disputado que cerveja gelada. No palco, a vez era da poesia cantada, versada em forma de música, de compositores importantes da história do cancioneiro gaúcho.
Em Canto dos Livres, de Cenair Maicá, o poeta se desnuda, apresenta de maneira simples, mas intensa, que cantar é a sua salvaguarda: "No cantar de quem é livre, hay melodia de paz / Horizontes de ternura, nesta poesia de andar / Quem canta refresca a alma, cantar adoça o viver / Assim eu vivo cantando, pra aliviar meu padecer".
O gauchismo veio à tona com Céu, Sol, Sul, de Leonardo. Para muitos, o segundo hino do Rio Grande do Sul. Mas a mão pesou mesmo quando Maria Almeida, 64 anos, foi convidada a subir no palco.
- Vamos lembrar com orgulho as pessoas que lutaram e morreram para fazer do Rio Grande do Sul um lugar melhor para viver - disse Maria, antes de recitar duas poesias.
Acompanhada do violonista Tarcísio Sirena declamou Lenço Colorado, de Glauco Saraiva, e Mãe Velha, de Apparicio da Silva Rillo, seu poeta favorito. A postura forte e a voz encorpada silenciaram o burburinho do bolicho.
Nos versos de Apparicio, a tristeza de uma mãe que assistiu de mãos atadas marido e filho morrerem na guerra: "- Papai foi pra guerra!, dizia o piá. / Mãe Velha era moça no tempo que foi. / Mas veio a notícia: - Teu homem morreu / de lenço encarnado / e de lança na mão". Maria encantou a platéia porque trouxe à luz da poesia a história de quem sofreu com a disputa entre maragatos e chimangos. Encantou porque sentia a dor da mãe velha em cada um dos versos sofridos. Depois da declamação, revelou: - Tenho que declamar sempre. Nem que seja pra mim mesma.
A inspiração para se tornar declamadora veio do programa de rádio Grande Rodeio Coringa, criado em 1954 e apresentado por Darci Fagundes e Luiz Menezes na Rádio Farroupilha. Defensora do tradicionalismo, Maria acha que a poesia gaúcha está relegada. - O pessoal dificilmente valoriza a poesia. A dança sempre é a atração principal. Sábado, a poesia teve um lugar de destaque. Resta saber se ecoará para além das comemorações da Semana Farroupilha. Se depender de Maria, a poesia seguirá como a ponta de lança nessa batalha constante para levar adiante a cultura do gaúcho.
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